algum dia de 2017
hoje eu me permiti
hoje eu sentei na cama e me permiti sentir os últimos resquícios de frio do ano,
abri a janela ainda sem roupa e senti a pele arrepiar.
olhei no espelho e percebi que senti falta de mim mesma.
hoje eu tomei o café preto adoçado com muita vontade,
nem reparei que queimei a língua,
a sensação do café esquentando minhas entranhas foi anestésica.
hoje eu reparei nas expressões e contemplei rostos que passaram.
me permiti sentir raiva, porém passageira,
ela foi embora mais rápido do que veio.
eu dei abraços mais longos e sorrisos mais largos para os conhecidos que encontrei.
hoje eu quis tomar sorvete e sentar no banco para ver a vida passando
e me dei conta que baunilha era meu sabor favorito,
chocolate foi só uma fase.
eu reparei nos gritos da criança que mora no meu andar e achei engraçado.
conversei no elevador,
segurei portas,
desejei coisas boas e fui retribuída.
achei a água da piscina mais relaxante que o normal,
a cada braçada pensei em alguém que eu gostava e que me fazia feliz,
a cada pernada pensei nas pessoas que eu poderia gostar.
tive um dos melhores desempenhos na série de velocidade.
escutei as conversas entre chuveiros das senhoras no vestiário e me diverti junto.
agradeci e sorri para conselhos bobos.
reparei na menina que tirou o tênis na saída da escola e resolveu ir descalça para casa.
fui boba com as crianças que cruzaram meu caminho.
deixei a joaninha na janela me acompanhar até o ponto final.
reparei nas mulheres,
nos olhos,
cabelos,
bocas,
como seus corpos se movimentavam rápido,
desejei algumas delas.
não me irritei com a tecnologia,
não pensei nos problemas financeiros,
não me importei com meus problemas políticos,
não pensei nos prazos e nos horários.
observei um avião cruzando o céu e perdi o sinal verde para atravessar.
lembrei de coisas e ri sozinha na rua.
hoje eu disse pra mim mesma:
“volte sempre, porque eu sinto sua falta”