hoje algo me assustou no elevador:
me olhei no espelho
e vi um ser que não existe,
uma carcaça,
ossos,
olhos são apenas duas cavidades que fazem a leitura da luz e nada mais,
pura matéria orgânica,
se decompondo.
"não reconheço a figura no espelho"
eu disse,
com as mãos sobre o que costumavam ser pernas
e agora nada mais são que estrutura para um peso morto.
as mãos estão pontiagudas,
como o monstro que dava medo na criança,
e que agora sei que vive dentro,
nos escombros de algo que um dia foi um ser humano,
hoje são destroços de uma guerra sem fim

aquela figura no espelho
não é o que costumava ser,
nem o que queria ser,
ela é o que é
resultado de dias iguais,
falta de nutrientes
e solitude

a esperança no fim
é que a terra coma o que sobrou
e transforme em algo bonito
enfim