tem uma Maria em cima do palco
de pele preta e cabelos brancos
falando sobre combinados
e olhos cheios d’água.

em sua frente
há corpos saltando por todos os lados
pernas dançando
e mãos acelaradas.

em suas costas
há bustos brancos inertes,
como cobre gelado,
aprendendo com ela como se constroem palavras.

acima de sua cabeça
há uma caravela,
com a cruz vermelha pingando sangue,
sangue de outras Marias,
mas não dessa,
essa Maria está em cima do palco sagrado.

[é preciso silêncio enquanto Maria fala
sobre as canções de ninar
e as lágrimas insubmissas]

na parede ao lado
há tubas penduradas
e a menina ruiva disse que tuba sozinha soa mal
[quando tocada pela avó em seu quarto]
as tubas precisam do corpo de orquestra para fazerem sentido

assim como as palavras que Maria escreve e que me deixam com os olhos cheios d’água.